
Não me lembro de ter postado sobre isso.
Na verdade eu não me importo nem um pouco de admitir que essa chuvinha gostosa de outono esta me deixando bem sentimental.
Refleti sobre a temática, vi fotos, ouvi músicas e nada como um boteco bagaceiro de esquina pra te revelar o valor e a importância da amizade.
Em tempos onde ninguém tem tempo pra nada, ou pelo menos para fazer o que realmente gosta, o boteco com os amigos toma outras proporções...
e quando falo de buteco com amigos, não falo de parceria, conhecido, encontro de coincidência, caçadas...nada disso.
Falo sim do buteco com os AMIGOS, aqueles que te aturam, que te aceitam, que te conhecem, que dividem, que gritam, que bebem, que gargalham, e que bebem mais!
Aqueles amigos que muitas vezes são muito diferentes de ti, mas que estão ali do lado. Aqueles que te imitam, que riem da tua desgraça, mas que também te dão o sacudão necessário, um 'vai te cata' merecido, que te colocam as diferentes percepção dos fatos...
que enriquecem a tua vida, que te dão força e que muitas vezes dizem o que a maioria das pessoas não teriam coragem de dizer...
Filosofar num buteco, na praia, numa festa, na aula com os amigos, nos lugares mais impróprios é que surgem as hipóteses, teses e problemáticas mais inteligentes e mirabolantes, mas que com a dose certa de bebida fazem todo o sentido!
Numa mesa, onde estão teus amigos mudanças drásticas de visão de mundo, percepção e interpretação podem acontecer...e na verdade se são amigos mesmo, isso acontece. Afirmo categoricamente!
E quando vivemos fases na nossa vida onde nada parece fazer sentido (e nem vem, porque isso acontece com todo mundo :P ), tá lá ele, teu amigo te chamando pra um buteco, pra uma caminhada..só pra ti poder chorar as lamurias e no final te mostrar que 'não é bem assim', ou pra dizer contigo um 'mas que bosta'... ou como eu mesmo gosto de dizer '..olha, podia ser pior...'!
Quem inventou a AMIZADE com certeza tá no céu, do lado da pessoa que inventou a batata frita, o ar condicionado e o jogo de resta um!
Quem tem amizades como essa que me referi é muito feliz....
E como numa mesa de buteco de se preze, depois de alguns copos, esse poema do Vinicius (sempre ele na minha vida) seria recitado, ou ao menos lembrado...
Amigos
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente,
os que só desconfiam - ou talvez nunca vão saber -que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.