domingo, abril 15, 2007

NADA MENOS QUE O INFINITO

Já fui outra, puta, esposa, corna, promíscua e muito infiel. Quase que por princípio: a favor da liberdade, contra a fidelidade. Já traí por esporte, vingança, tesão, falta do que fazer, perversidade, paixão. E poucas vezes menti - a verdade como forma de redenção. Talvez nunca tivesse amando.
Acreditei durante muito tempo que, depois do esfacelamento da instituição casamento, a maior contribuição para um novo modelo de relacionamento havia sido dado por Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. O modelo "viver em casas separadas e conciliar amores contingentes desde que não atrapalhe o amor necessário" parecia, sem sombra de dúvida, perfeito. Para quem pode, não para quem quer.
O par Simone-Sartre tinham uma cumplicidade inabalável em muitos sentidos: na linguagem, no intelecto, no afeto. Eram paceiros incondicionais. Tinham tamanha confiança um no outro; tinham um desejo enorme de fazer de suas vidas, também elas e não só as obras, uma experimentação éticas e estética; tinham tamanha solidez simbólica e amorosa que foi possível abrir a relação e arcar cm seus riscos.
Na selva urbana dos amores líquidos, estabilidade como a deles é cada vez mais rara. Na jungle o que se pode almejar ao final de quase toda balada é trepar, trepar, trepar com um , com dois ou três, com uma ou outra; encontrar alguém pra nos salvar de nós mesmos, mesmo que por um instante; inventar um jeitro de tapar esse buraco que insiste em irromper no peito.
Nesse fluxo incrível de diferentes experiências, nessa múltipla possibilidade de escolha, no meio desse volume de gente, de corpos, de carne humana; casamento, família, fidelidade parecem uma caretice sem fim, alguma coisa completamente fora de moda.
Hora de voltarmos a ela.
Nada mais comtemporâneo, necessário, urgente que ser fiel até o último fio de cabelo, que desejar no amor nada menos que o ilimitado, que acreditar no pra sempre, escolher alguém, se expor inteiramente avertigem do outro. Amar demais, amar sem medo, amar pra caralho, deixar o amor brilhar dentro do peito, amar com todas as partes do corpo.
Quanto mais eu amo eu sou fiel, mais livre me sinto. Quando mais eu dedico o meu desejo somente a uma pessoa, mais liberdade eu experimento. Quanto mais eu conheço o outro, maiseu me apixono. Quanto mais eu converso, mais quero conversar. Quanto mais eu quero, mais quero tudo.
Pelo fim do casamento burocrático, inerte e covarde. Sejamos grandes. A favor de uma coragem de meter a mão nas feridas, nos problemas, nas dificuldades e se reinvetar dentro da relação. Ou não, e ter a coragem de assumir a felência, e romper e partir pra outra. A dor muitas vezes é civilizadora, luto não mata.
A favor da liberdade feminina, do fim total desses padrões arcaicos de que mulher feliz é mulher casada. Mulher feliz é mulher que trabalha, trepa, vive, tem amigos, ganha grana, pensa, dança, gargalha.
E, se necessário for, não ter filhos. O casamento sem filhos é sustentado, exclusivamente, pelo desejo. Essa é uma forma de atualizar, cotidianamente, o prazer de viver junto.
Não se apegue àquele discurso de que o mercado masculino está difícil. Não é papo é verdade, estatística: já deu no Fantástico. Então, invente soluções. Viaje, conheça gente em outros lugares do mundo. Entre em sites, arrume um macho na Internet. Ou parta para o lesbianismo - depois dos avanços da indústria do sexo, pau não é mais problema.
Mas, se preferir ser amante, então seja amnate por convicção. Daquelas que não querem um relacionamento estável, mas encontros eventuais, sexo conhecido, alguma cumplicidade com um homem que não fique para o café-da-manhã - graças a Deusa. O que não dá é ficar maldizendo as esposas e querendo se tornar uma delas. Se conformar com a posição de amante wannabe, por mais amor que se sinta, não rola. O pior lugar que se pode estar na vida é no meio do caminho.
Nunca se conforme com menos que tudo.


o texto acima é da Antonia Pellegrino, 27, é escritora e roteirista, está presente na antologia Dentro de um Livro e edita o blog www.invejadegato.blogger.com.br



Ponto de vista interessante, não?!